Prejuízo ambiental

Quando o descuido traz riscos à natureza

Impulsionado pela falta de chuva e pelo calor excessivo, incêndio no banhado do Pontal da Barra ressurge com assunto de Unidade de Conservação

Jô Folha -

Férias planejadas, casa alugada, uma virada de ano em família. Era o que a contadora Cleusa Pereira esperava para o último sábado, quando os planos foram interrompidos por um incêndio numa parte do banhado do Pontal da Barra. A área, que já tem todo o planejamento e estudo para ter uma Unidade de Conservação, é tradicionalmente alvo de queimadas, principalmente no verão, quando as altas temperaturas e a vegetação seca contribuem ainda mais para o acidente.

De acordo com Cleusa, foi por volta das 17h que fuligens começaram a cair no pátio da casa onde estava, próxima à rua Paulo Souza Lobo, onde foi registrada a ocorrência pelo Corpo de Bombeiros. Ela conta que, com o vento forte, o alastramento das chamas foi muito rápido. "A preocupação toda foi que ele ficou muito perto da casa e da rede elétrica. Colocamos máscara e saímos porque aqui era fumaça preta, fuligem, a gente não conseguia respirar", conta.

"Quando a gente viu que estava se aproximando daqui, todo o pessoal saiu das casas. Fomos para três ruas abaixo com carro, moto, porque a gente tinha medo, não sabia o que podia acontecer. A chama vinha muito forte e o vento também estava forte", diz a contadora, que comenta também que os bombeiros levaram 1h30min para chegar ao local, o que acabou contribuindo para que as horas de susto se estendessem. Até a meia-noite do último domingo, ainda havia pequenos focos do incêndio e, ontem, quando a reportagem esteve no local, um foco ainda estava ativo.

Através da comunicação social do batalhão de Pelotas, o Corpo de Bombeiros explicou que parte da equipe dava apoio a um incêndio em residência no bairro Bom Jesus, mas que, segundo o sistema, a viatura acionada chegou em meia hora na ocorrência. O sargento Fabiano Rosa destaca que, durante a temporada de verão, também há uma redução do efetivo de combate a incêndio, pois há remanejo da equipe para a Operação Verão. "Sempre mantemos o mínimo de duas guarnições prontas para o atendimento à população", salienta.

Ele informa que, desde o início deste ano, já foram registradas seis grandes ocorrências de queima de vegetação. "As de pequeno porte geralmente são atendidas durante os trajetos de retorno das viaturas."

"A queimada nas vegetações do Laranjal ocorrem com maior frequência neste período por conta da estiagem e da ação direta dos próprios moradores, que queimam lixo nas redondezas ou até mesmo fumam próximo aos locais", alerta o sargento, que afirma que na ocorrência do Pontal da Barra foram 2h30min de combate ao fogo.

Uma longa espera em busca da preservação

Após um mês da visita da prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) e demais autoridades às dunas do Pontal da Barra, a Unidade de Conservação ainda não saiu do papel. Com cerca de 800 hectares ricos em fauna e flora, com espécies raras, endêmicas e consideradas em extinção, o local já conta com um estudo científico realizado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), porém não há novidades sobre o assunto desde a caminhada, de acordo com a prefeitura.

A reportagem tentou entrevista com responsáveis pelo projeto, mas foi informada que o secretário de Qualidade Ambiental (SQA) está de férias e que o diretor executivo da pasta não está a par do assunto. A assessoria de comunicação disse que a SQA aguarda trâmites do governo federal. Já o pró-reitor de Planejamento da UFPel, Paulo Ferreira, confirmou que, desde o início de dezembro, não houve nenhum avanço. "Nosso papel agora como universidade é meio limitado", complementa.

Advogado ambientalista e conselheiro no Conselho Municipal de Proteção Ambiental, Antônio Soler defende que a área já está, ambiental e burocraticamente, pronta para tornar-se Unidade de Conservação de Ecossistema, basta apenas "uma gestão ambiental". "O movimento ambiental alerta sobre isso [a falta de preservação] desde a década de 90", pontua.

"Ainda falta muito para a gente garantir a questão da proteção. Nós precisávamos ali de uma unidade de conservação pública, de domínio público - seja municipal, estadual ou federal, não importa - que tivesse ali um controle para evitar esse tipo de situação como foi o incêndio, que não é a primeira vez", garante Soler.

A importância dos banhados

O conselheiro fala que, na sua visão, muitas pessoas consideram locais de banhado desprezíveis e ignoram a importância social e ambiental dessas áreas. Ele ressalta que o Pontal da Barra deve ser tão preservado quanto a Estação Ecológica do Taim, por exemplo.

"As zonas úmidas são o ecossistema mais degradado do planeta. Estima-se que já foram destruídas 95% de toda as zonas úmidas. É um ambiente importante ambiental e socialmente, frágil e que está desaparecendo. É uma área que naturalmente serve como proteção de enchentes, porque é uma área baixa. Ela absorve uma grande quantidade de área na região e, quando há pouca água no ambiente, ela libera água, ela regula as águas", finaliza.

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